Joinville tem mais de quatro mil crianças e adolescentes estrangeiros matriculados na rede municipal de ensino, segundo dados divulgados pela Secretaria de Educação do município. Dentre este número, cerca de três mil não têm nacionalidade definida, 712 são da Venezuela e 169 do Haiti.
As idades das crianças são variadas. Grande parte dos alunos está entre o 1º ano (588) e o 2º ano (322) do Ensino Fundamental. No total, são 4.029 alunos estrangeiros matriculados nas escolas da rede municipal.
Cerca de 3.030 estudantes não têm a nacionalidade especificada. Segundo a gerente de apoio a aprendizagem da Secretaria de Educação de Joinville, Deyze Faust, isso acontece por conta de como esses dados são coletados.
“Esse tipo de dado é coletado na hora da matrícula em cada escola da cidade. Dizer que a nacionalidade não é definida, quer dizer que, ao preencher os documentos, foi colocado em outra opção”, explica. A área da educação de Joinville está realizando e mapeando estratégias para redefinir esses dados.
Deyze relata que cada escola está sendo orientada. “As ações são para definir de onde essas crianças são para mapear e entender as necessidades desses estudantes. Assim podemos também refinar esses dados”, conta. Esse tipo de estratégia também poderá ajudar o município na tomada de decisões de forma macro.
Já das nacionalidades definidas, 712 são da Venezuela, 169 do Haiti, 19 do Paraguai, 15 da Bolívia, 13 do Peru, 12 da Colômbia, 11 da Cuba e 8 da Argentina. Um número menor de crianças são de outros países.
Os bairros onde as crianças e as famílias residem também são diversos. Os principais são o Jardim Paraíso (338), Paranaguamirim (258), Comasa (265) e Adhemar Garcia (117).
Atendimento às crianças
A Escola Municipal Doutor José Antônio Navarro Lins, localizada no bairro Comasa, é referência quando se trata de acolhimento e educação de jovens estrangeiros. Ao todo, 863 alunos são atendidos e divididos entre o 1º ao 9º, cerca de 24 deles são estrangeiros.
“Nesses casos, verificamos sempre a documentação junto a família. Principalmente para não colocar um aluno em uma série que não corresponde a dele”, relata Patrícia Muller Sousa, diretora da escola. Após isso, o aluno é encaminhado para a orientação, ainda com a família, para que eles sejam orientados sobre a escola, o uniforme e os materiais.
“Também é nessa hora que avaliamos o nível de acompanhamento necessário. Muitas vezes precisamos fazer provas de nivelamento, para entender em qual pé está a alfabetização daquela criança na língua portuguesa”, explica Patrícia. Essas crianças são encaminhadas para uma aula de reforço, normalmente organizada no contraturno escolar em alguns dias da semana. É ali que a criança é alfabetizada em português.
“A grande maioria não tem dificuldade de aprendizagem e apenas não sabe a língua”, acrescenta. Na escola, um dos alunos estrangeiros já recebeu a medalha de honra de melhor aluno da rede municipal. Ele era um aluno estrangeiro e seu país de origem era o Haiti.
A escola foi se adaptando junto aos alunos. Segundo Esdra Lima Pinheiro Schreiber, orientadora do 6º ao 9º ano, no início foi difícil. “Passamos por muitas etapas até conseguir esse tipo de atendimento. Fazíamos muitas aulas de reforço e usamos a tecnologia ao nosso favor para conseguir nos comunicar com as crianças”, conta.
Acolhimento dos alunos
As dificuldades sociais também são percebidas durante esse tipo de atendimento. “Esse ano, atendi uma aluna do 5º ano que estava preocupada com o uniforme e com os materiais escolares. Ela só havia vindo com a mochila, sem nada dentro”, relata Mariel Almeida Machado, supervisora do 1º ao 5º ano do colégio.
Após a orientação, a aluna recebeu os uniformes e os materiais necessários. “Ela veio orientada para saber como conseguir o necessário para estudar. E na semana seguinte ela já estava uniformizada”, relembra. Os alunos também sempre são matriculados, mesmo sem todos os documentos necessários.
“Quanto mais tempo essa criança passa fora da sala de aula, mais auxílio ela terá que receber no futuro. Por isso, sempre fazemos a matrícula e então orientamos em como conseguir os documentos”, explica Patrícia. A orientadora do 1º ao 5º ano, Sandra Regina Quadra, relata que o apoio é sempre feito de forma individual.
“Conversamos e tentamos orientar cada família, sempre nos mostrando presentes. E eles retribuem isso, são muito agradecidos com tudo que recebem e aprender”, relata. Sandra conta que a escola tem um papel essencial para mostrar que nenhum estrangeiro veio ao local para tirar o lugar de ninguém.
Barreira linguística
Em específico na Escola Municipal Navarro Lins, o trabalho de acolhimento e diversidade é realizado dentro e fora da sala de aula. Patricia ressalta que a inclusão, acolhimento e integração fazem parte das pautas diárias, com trabalhos envolvendo igualdade racial, contra xenofobia e preconceitos. .
Em muitas aulas, a cultura dos alunos estrangeiros são introduzidas. Como nos costumes de cada região do Brasil ou nas comidas típicas. A professora do 6º ao 9º, Clarice Nunes Pereira Teixeira, conta que, no primeiro momento, os professores entendem que, além de receber um aluno, a escola está recebendo uma família de imigrantes.
“Trabalhamos sempre com a empatia, pois o impacto cultural é muito grande. Por isso, tento quebrar ao máximo esse impacto e barreira linguística”, conta. Professora de português há 14 anos, Clarice resolveu que a maior saída seria adaptar as atividades.
Em uma produção de texto, por exemplo, ao passar um filme para a realização de uma resenha, o filme era do Haiti ou da Venezuela com legenda em português. “Eu tento sempre trabalhar a língua deles e a nossa em conjunto. Não impedimos que eles falem a língua nativa, mas sempre indicamos como é no português”, explica.
Nesses casos, os próprios alunos estrangeiros se ajudam. Àqueles que têm mais domínio da língua auxiliam os mais novos e novatos. “Outra coisa interessante é que a própria sala de aula muda. O contato com outra religião, com outro tipo de alimentação e esse intercâmbio de ideias é muito rico para quem é nativo do Brasil”, acrescenta Clarice.
Curso de português para estrangeiros
Joinville também oferece cursos de português para estrangeiros. Segundo a Secretaria da Educação, os cursos são oferecidos em dois níveis com mais de 80 horas de aula, durante um semestre.
Também é oferecido em dois polos cursos de português para jovens e adultos: Escola Municipal Professor Edgar Monteiro Castanheira e Escola Municipal CAIC Professor Desembargador Francisco José Rodrigues de Oliveira. Novos polos devem ser abertos pela secretaria. “Queremos trabalhar não apenas o estudo da língua, como a alfabetização para essas pessoas”, conclui Deyze.
Casarão Neitzel é preservado pela mesma família há mais de 100 anos na Estrada Quiriri, em Joinville:
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